sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Azul

E nos teus olhos vi o brilho do amor
teu sorriso, pedaços de mim refletidos
e um céu inteiro a me encarar
Vermelho, inflamando de cor
Azul, e os teus cabelos, riscos prateados
de um tom escuro, no ar a pairar
Alvo à luz, brilho e calor
Almas partidas, sentimentos indomados
Vida, renascimento, a aurora a cantar
Filho do sol, filho da luz, sem dor
Ilumina o céu, a terra, findados
E traz de volta a mim, do mar,
a lembrança de ti, amor.

domingo, 9 de setembro de 2007

Dos períodos de fúria femininos e de como se originaram.


Contemplava o mar, o som da alma ecoando no espaço do tempo, ela não piscava, inerte, pálida. Sentia-se no ar uma nostalgia de algo desconhecido, uma sensação doce, não era tristeza, e era saboreada e ingerida a cada gole da taça do vinho que tinha em mãos, era algo maior que a simples tristeza, naquela noite em que a lua brilhava esplendida no céu, e o reflexo turvo no calmo oceano a estremecia. Os lábios manchados, não por sangue, talvez sim, mas pelo sangue dos deuses, vinho embriagante. Levava sobre os olhos a cor púrpura, profunda, profunda e intensa, contrastada aos seus olhos negros. Não chorava, porque não lhe cabia tal sentimento... Muitas imagens, estas nítidas e vivas, passavam diante de seus olhos, homens que já possuíra, as noites lascívias e libidinosas que passara, os homens que se sacrificaram por ela, ou que tiraram a própria vida por não suportarem não possuírem-na.
Então que ela começou a sentir, vibrante e encantador um som, sentia cada acorde, cada nota, de uma misteriosa flauta, ecoante, que se misturava ao canto do oceano, era um som confortante, sentia o abraço da música, era familiar, aquela sensação, em seu útero. Uma música poética que se incandescia, como se cada palavra fosse chama, cada verso mudo a incendiava conduzindo-a a um transe completo. Não sabia de onde vinha o som, pois o som não vinha de lugar algum. Estava ali, na pele dela, tocando-a intimamente e quem levava os acordes ao seu ouvido era Zéfiro, que a espreitava e acariciava-lhe os cabelos. Sentiu então um torpor, acompanhado de um súbito desejo, enquanto a flauta ia ficando cada vez mais audível, e o som já podia até ser visto, enquanto as imagens iam esmaecendo, a ponto que, em certo momento, ela já não as enxergava.
Foi se entregando então, entrando no mar, tirou logo o longo vestido vermelho e, nua, abraçou a Posseidon, que já a aguardava, tramando possuir aquela que das espumas do mar nasceu, e que enlouquecia a muitos dos Deuses e mortais com seus encantos, enquanto Dionízio a encantara anteriormente pelo vinho, para que estivesse mais suscetível ao doce som de Pan, levado pela velocidade e sutileza de Zéfiro, feito este que se deu todo mediante a um acordo entre os deuses que tramavam tudo para a seduzir.
Ninguém resistia aos encantos da flauta de Pan, e sobre as influências do vinho das carícias sutis do vento, até mesmo uma Deusa poderia se entregar a estes encantos. Mas eis que enquanto Afrodite se entregava ao mar os três deuses também a cobiçaram e reclamaram ao Deus dos mares o direito de ela também possuirem, como já era antes acordado, pedido este negado por aquele que desejava um filho da Deusa, e que fechou as portas de seu palácio, tornando os mares tão furiosos que seria impossível aos três deuses chegarem até o mausoléu das águas.
Então Pan tocou sua flauta novamente, mas desta vez um som bruto, agressivo, e que foi carregado sobre o oceano todo por Zéfiro, de forma a ecoar em cada canto do palácio marinho a ponto de atingir os ouvidos da Musa que despertou de sua hipnose, sentindo nos lábios um amargoso sangue, que ora fora vinho, e uma fúria digna de alguém que estava prestes a perder algo muito valioso, e então afastando a Posseidon, disse que aquele trote não passaria impune, furiosa esbravejava-lhe todos os maus nomes do Hades e jurou que tanto ele quanto todos os homens sentiriam a fúria das mulheres de agora em diante e sempre em um determinado período, uma das fases lunares para cada mulher, para lembra-lo sempre do que tentara e qual preço haveria de pagar por tudo isso. E como tal maldição fez com que cada uma das mulheres tivesse a sua fase a seu tempo, o seu período fértil e, junto a isso, seu momento de fúria e caos sobre os homens. Assim cunhou-se o martírio mensal dos homens perante suas divas e musas, e assim foi a vingança dos deuses sátiros, que não sofreriam tais ameaças, visto que sua música e seu vinho têm o poder de encantar e embriagar as mulheres, continuando assim suas festas a estarem sempre repletas de belas ninfas e bacantes. E ainda hoje os homens inteligentes apelam a estes dois deuses, o do vinho e o da música, para conseguir dissuadí-las de sua fúria e possuir delas o que tanto Posseidon lutou e não conseguiu.


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Feito em uma noite em que o mar minha'lma engolia, e um pouco de mim se resolvia...

quarta-feira, 5 de setembro de 2007



Ó chuva! Sobre mim
cais, inunda,
por mais que eu confunda
Não sinto um fim. 

Sei que tu, eu sinto,                                                  
me muda,e assim me 
desnuda, como se
O que sou fosse extinto

E o instinto grita
Me faz fera
ferida, que ruge austera
E que luta, se irrita

Essa chuva que me devolve
à brava natureza
deixa-me a incerteza
de tudo aquilo a que envolve!

É tempestade, tormenta
uma luta incessante
que ao meu coração amante
intriga e ao mal fomenta.

Chuva, vá, vá embora
e devolva a mim o que sei,
pois, desde que vos versifiquei
Tudo cá, cá dentro chora! 

quinta-feira, 30 de agosto de 2007


A noite me engole
E a cada dia ela me mata
no frio sereno que me muta
E a dor de ti me corta a pele

Sinto falta de mim, sinto
falta do aconchego,
desse desassossego
de noites brancas ao meu espírito

A luz da lua toca-me sutilmente
E eu morro, morro
Tanto que sem chão, não corro
E choro serenamente

À noite, me engole
a lua, me devora
Me leva embora, hora
que aqui, de dentro, me escapole.

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Em uma noite sombria, em que em mim eu mal cabia. 30/09/2007




segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Dos olhos, dos desejos e dos pudores



Na utopia de nossas vidas há algo sempre estranho, um sentimento, mas, às vezes não é um sentimento, é um incômodo! Isso, algo tão forte que chega a, em alguns momentos, nos enlouquecer e nos forçar a tomar atitudes que, quando sãos não ousaríamos. É um ímpeto tão forte que nos faz querer atear fogo a tudo, isso sem contar quando nos faz queimar ao próprio semblante de tão incontrolável que se torna! Diariamente experimentamos sensações, diversas, adversas, como um olhar, o qual tratemos pois, aquele cheio de esperança, cobiça, desejo ou erotismo, aquele impúdico ou o mais inocente e infantil mirar. Não somos donos de nós mesmos, a vida em sociedade não nos dá esse direito, podemos tentar até parecer individuais, mas não é uma condição muito possível, o simples ato de olhar o outro retira a individualidade dele, o olhar é tão intenso quanto o sexo, a diferença é que no sexo ainda há um certo pudor cretino, que o olhar esqueçe-se completamente de carregar consigo. O desejo do não visto, a curiosidade, a vontade de explorar cada sentímetro do corpo que se posta diante do examinador, como pássaro, que pelo caçador é espreitado. O jogo da sedução, mera brincadeira infantil é todo realizado no estádio que é o orgão composto por partes dos ossos frontal, maxilar, zigomático, esfenóide, etmóide, lacrimal e palatino e associado a estruturas acessórias: pálpebras, supercílios (sobrancelhas), conjuntiva, músculos e aparelho lacrimal. Tudo isso é responsável por um rubor na face alheia, e, dos mais timidos,que sempre atiram o olhar ao chão quando desbravados, tais como moças virgens que não querem sentir a castidade ser substituída pela impudicência que vem do pós-gozo, e por serem desnudados tão facilmente é que são os alvos preferidos, enquanto os fogosos, corajosos e altivos encaram, com pose majestral, o seu espreitador, gerando um conflito, Marte contra Venus, iniciando uma guerra, um choque de Deuses imperiosos e nada arredios, numa disputa do não ser e não possuir, e que, no final das contas, depois de feito o tudo, e tal qual sexo, que após toda tensão e selvageria, divide corpos, que, ora unidos e agora opostos, se separam, e guardam tudo in memoriam, essa é a pequena diferença que há do olhar para o sexo, o olhar deixa uma vontade, um tesão não concluído, uma gana por buscar mais daquele outro desejo indesejável e nunca possuído, o sexo, mas este, após o gozo, se esvai e ficam as palavras cretinas atiradas ao ouvido, outro grande responsável por tempestades mas que nos convirá não agora, mas no rompimento das barreiras virginais do silêncio, e é assim, de olhos e de sexo tratando, que no fim das contas olhamos, aquilo que na cama há pouco possuímos, ou aquilo que para a cama cobiçamos.




"Num atordoamento e confusão
Arde-me a alma, sinto nos meus olhos
Um fogo estranho, de compreensão
E incompreensão urdido, enorme
Agonia e anseio de existência,
Horror e dor, [agonia] sem fim! "

Primeiro Fausto, Fernando Pessoa.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Vi em meu quarto uma quimera
Um olhar com fogo de Vênus
Era um lírio a emanar luz
Chegou-me perto o quão pudera

Cingi a mulher pela cintura
Contemplei seu semblante belo
Toquei-na dos cachos o anelo
Beijei-a nos lábios com fervura
Acariciei os ombros, que nus
Incitavam castidade’ardor
Aspirei o perfume da flor
Que nos cabelos logo pus

Então a casta meretriz viu
Que eu apaixonado estava
E, fechando a porta da alcova
Atirou-se ao meu peito viril.

Com devoção amei-a muito
Quando a libido a mim subia,
Apertava-a forte e sorria
Então levei um susto

A minha visão desaparecera
Chorando eu gritava e gemia
Por que roubou minha alegria?
Maldita seja, feiticeira!

Percorri o quarto insanamente
Fitei cada fresta obscura
Buscando de novo a quimera
A quem outrem beijei o semblante

Noites fico só, a divagar
Lamentando a noite mágica
Que só na lembrança me fica,
Que nunca esteve em meu lar.
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Bom , meu nome é Geovani, a.k.a. Heinrich. Sou um Estudante, um visionário, um poeta, um amante, um amigo, um ser humano. Prentedo aqui neste blog, aonde Mefisto toca sua flauta mágica, tentar de tudo, ser poesia, absorver e verter em palavras tudo que puder, mas não trato apenas de um blog poético, tão menos um bla bla bla ecumênico, não tenho eu, sequer, um tratado, e apenas agradeço aos que aqui passaram, e caso hajam trocas ideais/sentimentais/transcedentais, serei feliz em receber e retribuir os comentários. Não sou um revolucionário das causas perdidas, mas um, como acima disse, visionário, e busco no íntimo de minhas palavras, tal para mim vejo, entender aquilo que sou, se isso possível é, ou tentar pelomenos descobrir o que não sou. saudações e espero que gostem do espaço.